Texto em homenagem à antiga Directora Executiva do IILP, Profª Doutora Amélia Mingas
(10.05.2021)

Amélia Arlete Dias Rodrigues Mingas, angolana, nascida em Luanda a 17 de dezembro de 1940. Desde cedo, o seu percurso foi ao encontro do conhecimento e aprofundamento das questões relacionadas com a língua. Licenciou-se em Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e doutorou-se em Linguística Geral e Aplicada pela Universidade René Descartes de Paris.
Foi Professora do ensino secundário em Angola.  Exerceu as funções de coordenadora de Língua Portuguesa do Instituto Médio de Educação; de chefe do setor e, mais tarde, de coordenadora do departamento de Língua Portuguesa do Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda (ISCED-Luanda) e de diretora do Instituto Nacional de Língua do Ministério da Cultura. Além de trabalhar em investigação, Amélia Mingas foi responsável pela cadeira de Linguística Bantu na Universidade Agostinho Neto.
Em 2006, o seu caminho cruza-se com o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), tendo sido nomeada Diretora Executiva, resultado de um percurso académico notável. Como base da sua atuação, defendeu o estabelecimento de uma política linguística comum aos oito Estados que compunham a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), havendo, nesse sentido, desenvolvido iniciativas e projetos que colaboraram para o cumprimento desse desiderato. A título de exemplo, coordenou cinco “Coletâneas da Literatura Oral da CPLP de/em Língua Portuguesa”, que congregavam autores das diferentes dimensões da língua, em torno do universo dos contos, provérbios e adivinhas, absorvendo de cada realidade os traços culturais que viriam a incrementar o conhecimento de si próprios. Esta visão levou a que o projeto tenha sido reconhecido como uma das melhores iniciativas do IILP.
A nível académico, Amélia Mingas apontou a influência das línguas africanas e a importância das línguas nacionais para/no ensino, conduzindo a uma visão precursora da necessidade da adoção de políticas linguísticas orientadas para um olhar heterogéneo da língua portuguesa nos Estados-Membros da CPLP, tendo em conta a sua coexistência com as línguas locais. Esta visão trouxe uma nova dinâmica ao IILP através de projetos que, desde então, têm vindo a ser implementados.
Com o espírito de missão que lhe era característico, ativamente participou e promoveu mesas-redondas, palestras, concursos e projetos onde defendeu a perspetiva da língua portuguesa enquanto fator de identidade e identização, binómio este, língua versus identidade, que consubstanciaria comportamentos específicos de uma sociedade, na medida em que resultariam em elementos de coesão social. Amélia Mingas afirmou ainda a relevância da apropriação da língua portuguesa pelas populações locais, atestando a incorporação de marcas locais, o que lhe concedeu direitos de cidadania.
Durante a vigência do seu mandato, as portas do Instituto abriram-se para receber inúmeros eventos culturais que visavam evidenciar, valorizar e dar a conhecer os países que compõem a Comunidade, entre si e ao mundo, por meio da realização de mostras e exposições. Destas, destacam-se as semanas culturais, onde se procurou divulgar a cultura dos Estados-Membros, incluindo os que não possuíam representação diplomática no país. Sendo a sede do Instituto em Cabo Verde, consubstanciou motivo de grande enriquecimento para os cabo-verdianos, em especial da Cidade da Praia, o convívio e participação nas referidas atividades. 
Amélia Mingas representava a definição do conceito de cidadania CPLP, na medida em que procurou sempre evidenciar a beleza da diversidade de que é composta esta Comunidade, a diferentes níveis e dimensões, trazendo as crianças e os jovens para o centro da equação, na procura de uma Comunidade mais plural e inclusiva.
Mulher de sorriso bondoso, de trato afável e altruísta. É assim que é definida por quem com ela teve o prazer de privar.
As suas obras permanecerão e o seu contributo para uma visão estruturada e   engrandecimento do IILP ficarão para sempre ligados à história da Comunidade de língua portuguesa.


Mensagem
Por ocasião da Homenagem do IILP à Amélia Mingas

(10.05.2021)

Começo por cumprimentar o Excelentíssimo Sr. Dr. Incanha Intumbo, Director Executivo do IILP, os representantes das Comissões Nacionais do IILP em reunião do seu Conselho Científico, as senhoras e senhores colaboradores do IILP  e os estimados convidados que nos acompanham.

Apenas quero dizer umas breves palavras, primeiro de um sentido agradecimento por esta homenagem. Considero que esta iniciativa enobrece o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, na medida em que constitui um justo reconhecimento do valioso trabalho que a saudosa Professora Amélia Mingas desenvolveu durante os quatro anos em que dirigiu este prestigiado organismo da CPLP.

Em segundo lugar, permitam-me que evoque, ainda que resumidamente, algumas das suas acções que constituiram verdadeiros marcos na sua passagem pela instituição. Não me refiro àquelas acções específicas de um organismo do género, nomeadamente, a realização de palestras, diversos tipos de encontros e projectos de índole científica e técnica sobre a língua portuguesa e que, durante a sua directoria, se realizaram com frequência. Gostaria sim de referir outras acções que julgo reflectirem a forma inovadora, entusiástica e mobilizadora das abordagens protagonizadas pela nossa ilustre homenageada:

– Em 1º lugar, apesar do eterno problema da falta de recursos, testemunhei os seus esforços de optimização e dignificação das instalações do IILP;

– Em 2º lugar,  lembro-me das suas iniciativas para aproximar a instituição e as comunidades, por exemplo, ao envolver representantes das diferentes comunidades em actividades culturais acolhidas pelo IILP, mormente por ocasião do dia nacional de cada um dos países membros da CPLP e que decorriam por uma semana com exposições, eventos gastronómicos e convívios. Lembro-me de como essas semanas (da Guiné Bissau, de São Tomé Príncipe, de Timor Leste, etc.) atraíam bastante público e acabavam por proporcionar uma maior visibilidade da instituição;

– Em 3º lugar, visando uma aproximação mais estreita do IILP a cada um dos Estados membros, acumulou milhares de milhas em viagens que a levaram a visitar, na sua qualidade de Directora Executiva, praticamente todos eles, desde o tão próximo São Tomé e Príncipe até ao longínquo Timor-Leste. Com o mesmo fito e não só, de referir a publicação, em Junho de 2010, de uma colectânea de literatura oral de/em português  em vários volumes, referentes a vários países, com contos, provérbios e adivinhas, que contaram com uma participação abrangente do mundo lusófono. Recordo aqui a participação no trabalho de ilustração dessas obras de desenhadores desde o Brasil até Macau.

Termino, reiterando o meu agradecimento e fazendo votos de uma bem sucedida reunião do Conselho Científico, evento que proporcionou uma excelente oportunidade para esta bonita e emotiva homenagem.

Bem hajam e muito obrigado pela vossa atenção.

10 de Maio de 2021

Jota Carmelino


Comentário de Arnaldo Carqueijo em reacção à Homenagem do IILP

Compadre, boa noite!!!
Só agora tive o prazer de ver a linda homenagem do IILP à nossa saudosa Amélia!!! Não vou aqui apresentar uma desculpa...
É que há eventos a que eu gosto de assistir quando me sinto mais tranquilo para apreciar e poder absorver cada detalhe com o coração primeiro e só depois com a razão.
Razão, que, neste caso, não tem qualquer razão!!! O infortúnio levou-nos a nossa querida Amélia sem nenhuma razão aceitável, pois ela continua a fazer falta à nação angolana e ao projecto PALOPs onde ela servia simultâneamente de traço de união e força mobilizadora, agregando vontades e objectivos e movendo montanhas de obstáculos, uns burocrático-administrativos, outros políticos e financeiros e certamente, o mais importante, os sociais, que se escondem por trás dos obstáculos anteriores, resultantes das vivências encontradas e desencontradas das várias culturas no tempo e no espaço de povos que compõem a actual comunidade dos PALOPs, um projecto criança ainda, para ser concretizado com sólidos alicerces a cimentar com essa argamassa que é a Língua Portuguesa, que ela tão bem soube defender .
Uma homenagem merecida por todo o esforço que ela dedicou ao desenvolvimento do IILP. Homenagem feita com factos apresentados com simplicidade e alegria, duas qualidades características de personalidades gigantes como a nossa Drª Amélia Mingas.
Recebe um forte abraço solidário, querido compadre e irmão, dos vossos compadres Arnaldo & Joana.

 

Comentários ao Livro Memorial


 

Mensagem de Jota Carmelino no acto de lançamento do Livro Memorial
(17.12.2020)

Contra a minha vontade, não estou fisicamente presente o que muito lamento. De qualquer modo, sinto-me integrado no evento graças às facilidades que a tecnologia moderna nos proporciona. 
Começo por cumprimentar o Senhor Decano Alexandre Chikuna, anfitrião deste evento, os distintos membros da Mesa, nomeadamente, o Professor Doutor Paulo de Carvalho e o Dr. Arlindo Isabel, os meus estimados cunhados e demais familiares, amigos e colegas da Professora Amélia e todos os que nos acompanham online.
Hoje, data do seu aniversário natalício, sinto uma grande satisfação por estarmos aqui reunidos para lançar o livro de homenagem à nosssa saudosa Amélia Mingas. O livro é lançado em dois formatos, isto é, o formato clássico, objecto desta singela cerimónia e o formato virtual, a versão E-book que será acessível gratuitamente no website da homenageada “www.ameliamingas.org.”
Peço que me concedam breves instantes para uma simples declaração à mulher da minha vida:
“Amélia, meu amor, sinto muito a tua falta, a tua voz no ouvido, a ternura no teu olhar, o calor do teu abraço, a contagiante alegria da tua gargalhada, a perspicácia com que identificavas e analisavas os problemas, a capacidade de inovação na busca de soluções, o amor ao País, enfim, tantas coisas bonitas para lembrar. É enorme o meu orgulho por ter partilhado a minha vida contigo. Em cada lembrança, sinto que se renova o amor que nasceu quando nos encontrámos pela primeira vez  há, quem diria, praticamente meio-século. Não tenho dúvidas de que no dia em que nos reencontrarmos, quando te entregar o  meu pedido para casarmos uma vez mais, contrariamente ao poema “Namoro” de Viriato da Cruz, tu vais dobrar o canto do SIM.”
Não vou alongar-me mais a falar da minha esposa, pois, o livro fará isso melhor do que eu, ao revelar as múltiplas facetas da sua extraordinária personalidade e que nos permitem perceber que pelos serviços prestados, pela força da sua personalidade e importância do seu legado, a Amélia libertou-se da lei da morte e guindou-se à condição dos imortais.
Espero que no fim da leitura deste livro, tal como eu, cada leitor fique com a agradável sensação de ter percorrido pela mão dos seus autores uma rica galeria com exposições que nos permitem conhecer melhor a homenageada nas suas diversas dimensões como mulher, cidadã, docente, académica e cientista. 
Quem não guarda dela a lembrança de uma pessoa adorável e uma cidadã exemplar, que se tornou uma referência para a sociedade e, em particular, para a educação? Quantos de nós não se sentirão tocados pelo desafio da necessidade de sepreservar o seu legado e de manter ao serviço da educação, de discentes como de docentes, o seu acervo académico e científico e os projectos inacabados agora tornados tarefa ingente que caberá aos seus discípulos e continuadores. 
Para terminar, quero exprimir o meu profundo sentimento de gratidão a todos os que directa ou indirectamente estiveram generosamente envolvidos neste projecto. Na impossibilidade de mencionar todos individualmente, permitam-me que faça alguns destaques: em primeiro lugar, os 29 autores do livro que com “engenho e arte” souberam revelar-nos a personalidade e a obra da nossa homenageada; em seguida, o Professor Paulo de Carvalho que comigo organizou o livro tendo emprestado ao projecto a sua experiência e competência e, no período em que estive doente no exterior do país, cuidou sozinho de todas as diligências atinentes ao lançamento dos preparativos; o Professor Eugeniusz Rzewuski que teve a iniciativa de propor o lançamento deste livro de âmbito internacional em homenagem à Professora Amélia Mingas; a minha filha Perpétua pelo calor humano que transmite ao permanecer perto de mim e pela sua contribuição, nomeadamente, na escolha da capa e contracapa do livro; a minha filha Arlete e a minha neta Zila, que igualmente me têm acompanhado com muito carinho  e me ajudaram a recuperar a memória de alguns episódios que narro no livro; o meu Compadre José Luís Teves que, desde o início, se envolveu com total empenho e invulgar entusiasmo neste projecto como se se tratasse de uma causa sagrada, indo além do trabalho de revisão do livro que lhe foi confiado; o meu cunhado Ruy Mingas e o meu primo Kopelipa Vieira Dias, pelo incentivo e apoio material indispensável para a concretização do livro e deste evento de lançamento; o meu irmão Nelito pelo encorajamento e amparo fraterno; o Dr. Arlindo Isabel, rosto da Mayamba Editora, por ter conseguido trazer a público o livro apesar dos enormes  constrangimentos actuais causados pela pandemia que se abateu sobre a humanidade incluindo o nosso país; o Dr. Alexandre Chicuna que desde cedo se associou fervorosamente ao projecto e se dispôs a acolher, como anfitrião, este evento para o qual disponibilizou as facilidades existentes na Faculdade de Humanidades.
Finalmente, um agradecimento ao meu sobrinho Carlos Mingas e à equipa que mobilizou e coordenou para podermos fazer esta cerimônia global de lançamento.
Amélia Mingas, presente!
Muito obrigado 

Jota Carmelino


Mensagem de Angela Cristina Mingas em nome da família
(17.12.2020)

Senhoras e Senhores, 

É inquestionável o papel da família na estrutura de qualquer sociedade, desde as questões éticas até às da continuidade das tradições e preservação de património socio-cultural, e nós, os Mingas, não somos excepção.
Muito se ouve falar sobre nós. Mas quem somos? 
Pertencemos a um grupo de famílias monárquicas de Cabinda, ligadas à ancestralidade do Império do Kongo e do reino Goyo. Trazemos na nossa singularidade o Tratado de Simulambuco, assinado por quatro dos seus mais dignos representantes, nomeadamente; King Jack, príncipe da Ponta do Tafe; King Taine, príncipe da Ponte do Tafe, Fernando Mingas, filho do Príncipe Jack do Buco-Sinto e pelo filho do Príncipe Bette Jack, Governador do Caio. A nossa base está na sociedade de cabinda, que à semelhança das outras de igual estirpe, têm a dupla responsabilidade de sustentar os valores convencionais da sociedade tradicional a par do processo de adaptação às exigências da sociedade contemporânea, representando a continuidade ao longo dos tempos como um elemento de união e de lealdade. E embora não tenhamos funções dinásticas nem funções políticas, temos consciência do papel que desempenhamos na liderança de diversos sectores da vida pública com particular interesse para a área social e cultural. Assim, o som Mingas é uma força que promove a nossa união, traz-nos cor e como um cordão umbilical enreda-nos com entusiasmo, honra e dignidade. 
Mas outras ancestralidades se juntam à dos Mingas. As famílias Vieira Dias, Vandúnen e Pinto de Andrade, do lado materno. Nomes como José Cristino Pinto de Andrade, Manuel Inácio Torres Vieira Dias, os fundadores da Liga Africana, Liceu, criador do Semba, foram fundamentais na sua construção o que faz dela uma digna representante dos seus ascendentes, com igual mérito, cultura e talento artístico. 
É em nome dessa ancestralidade que honramos o nome da querida Amélia Mingas que há muito deixou de ser só nossa pois pertence também e com justa medida à família angolana como uma página dourada no livro da sua história. 
Hoje, estas palavras são em nome da tua mãe, Antónia Vieira Dias e de teu pai o Patriarca André Mingas, que te legaram uma ancestralidade que elevaste em todos os aspectos.
Da Amélia revolucionária, artística, negra, pan-africanista, feminista, líder, académica, cada um de nós leva, na memória, um pouco da sua Amélia. 
Pouco mais de um ano faz que iniciaste a viagem para o lado do Pai todo-poderoso. Ainda não nos conformamos de todo, todos os dias vivemos um dia a dor da tua partida, mas hoje, dia dos teus 80 anos, celebramos o princípio da tua imortalidade. 
E aqui estamos, dia 17 de Dezembro celebrando com flores e cantos e muitas conversas as causas nobres da humanidade pelo qual sempre lutaste. 
Aqui estás como sempre, notável, mulher de causas e ideais, sem cedências, com um carisma assinalável, congregando vontades e seguida por muitos nas incansáveis lutas por um lugar melhor, pelos seus princípios. 
Acredito no que nos legaste com competência e generosidade, exemplo de vida com paixão ímpar e oxalá estejamos nós, a quem compete levar adiante e com carinho esse legado, à altura da magnitude intelectual e da grandeza moral que em vida tiveste. 
Hoje celebramos-te querida Melita para uns, “Ma Meia” para outros, Amélia de todos. 
Cabe-me trazer as palavras da tua irmã gémea, a tia Graça Machel 
“Por uma vida vivida plenamente em todas as dimensões 
Pelo exemplo que deixaste como herança 
Pelo impacto que sobreviverá através de gerações vindouras 
Pelo amor com que abraçaste os teus, 
Parabéns pelo teu aniversário, minha irmã gêmea! 
A estrela em que resides brilha mais intensamente em cada dia que passa. 
Amar-te-ei sempre! 
Russita” 
Essa é a Amélia, nossa. Aquela que levamos ao colo todos os dias, um dia mais além. Confortam as palavras dos que acreditam que embora a dor ainda esteja muito próxima - talvez pela perda recente da nossa querida Julia, tua irmã – estamos a celebrar a tua eternidade. 
E como diria o poeta, lá bem longe, nas terras de outras gentes, 
Amar o perdido 
deixa confundido 
este coração. 
Nada pode o olvido 
contra o sem sentido 
apelo do Não. 
As coisas tangíveis 
tornam-se insensíveis 
à palma da mão. 
Mas as coisas findas, 
muito mais que lindas, 
essas ficarão. 
Não há, pois, caros presentes, amigos, colegas e familiares, razões para nos deixarmos cair no pessimismo. Levantemo-nos perante as “alegrias da memória”. Levemos adiante, com coragem e determinação o teu nome. Empenhemo-nos, resolutamente, em engrandecer o teu legado, para todos! 
Em nome da Família Mingas. 
Sabemos que pertences à pátria Angola, ao berço África e mesmo ao mundo, mas hoje, muito obrigado pela honra de seres “também” nossa! 
Obrigada! 
Ps: Poema “Memória” de Carlos Drummond de Andrade


Mensagem de Paulo de Carvalho

Amélia Mingas, uma linguista africanista com visão cosmopolita

Estamos aqui, hoje, para homenagear a nossa querida Irmã, Mãe, Tia, Prima, Amiga ou Colega, Amélia Mingas, neste dia em que comemoraria 80 anos.
Quanto a mim, faço-o, em primeiro lugar, na qualidade de um dos seus dois irmãos caçulas. O primeiro, o seu caçula de sangue, é o Andrezinho (exactamente 10 anos mais novo). O segundo sou eu, seu irmão espiritual, a quem ela tratava carinhosamente por “Mano caçula” (exactamente 20 anos mais novo). A Amélia era, pois, afilhada do meu Pai, selando assim a grande amizade entre os nossos Pais: André Mingas Júnior e Sidónio Castelbranco de Carvalho – os nossos progenitores, que eu aqui recordo.
Faço-o, em segundo lugar, pelo grau de parentesco entre as nossas Mães, que eram Primas: Antónia Diniz de Aniceto Vieira Dias (da família Vieira Dias pelo lado paterno) e Josefa Segismundo Sequeira (da família Van-Dúnem pelo lado paterno).
Em terceiro lugar, por termos sido Colegas de trabalho em duas frentes. Primeiro, no então Conselho Nacional de Cultura, mais tarde Secretaria de Estado da Cultura e, mais tarde ainda, Ministério da Cultura, onde a Amélia chegou a exercer a função de Directora do Instituto de Línguas Nacionais. A segunda frente é a Universidade Agostinho Neto: primeiro, no ISCED de Luanda, depois na Faculdade de Letras e Ciências Sociais, que dirigi nos anos 2005-2006, tendo a Amélia depois dirigido a Faculdade de Letras, após a divisão da antiga FLCS em duas novas faculdades – a Faculdade de Ciências Sociais, onde eu me mantenho, e a Faculdade de Letras, onde foi colocada a Amélia.
Não tenho palavras para descrever a amizade, o amor e o carinho que sentíamos um pelo outro. O que procurei fazer, logo após a sua partida inesperada, em Agosto do ano passado, foi dirigir-me ao Valódia para uma conversa com o meu cunhado Jota, para em conjunto encontrarmos a forma de melhor homenagearmos a nossa Amélia. Seria apenas uma homenagem aqui na sua “casa” (a hoje Faculdade de Humanidades da UAN), ou começaríamos nós a criar o hábito de homenagear os Professores Catedráticos com livros, como se faz em todo o mundo?
Optámos logicamente pela segunda alternativa, graças ao apoio conseguido junto de familiares, que financiaram a publicação do livro. Os nossos agradecimentos, pois, aos financiadores do livro, sem o apoio dos quais não teríamos como estar aqui hoje.
Não é a primeira vez que se publica em Angola um livro em homenagem a um docente universitário. Já houve outros casos, mas penso que estarei certo se vaticinar que a “nossa Amélia” inaugura hoje um hábito que se pretende venha a perpetuar, de homenagem aos Professores Catedráticos da nossa universidade. Mas é preciso que isso passe a ser assumido, não pela família dos malogrados, mas pela própria academia. Se queremos seriedade, tem de passar a haver recursos para isso. Melhores dias virão, estou certo!

Minhas Senhoras e meus Senhores,
Não lidei com a Mana Amélia durante a minha infância, pois os meus Pais foram obrigados a uma transferência forçada para o Lobito, para onde nos deslocámos quando tinha eu apenas 2 meses de idade. A transferência era um dos recursos utilizados pelas autoridades coloniais de então, de modo a afastar algumas pessoas das células nacionalistas dessa época, a que pertenciam.
Vim conhecê-la anos mais tarde, em Luanda. Mas foi no então Conselho Nacional de Cultura que passámos a lidar, entretanto, sem grande frequência. Voltámos a encontrar-nos em Paris, num dos célebres colóquios da Casa de Angola em Paris, no período em que a Amélia fazia o seu doutoramento. No ISCED, mais tarde, começámos a encontrar-nos com regularidade.
Um dia, já lá vão uns bons 15 anos, a Mana Amélia procurou-me no ISCED de Luanda, para me sugerir que fizéssemos juntos um estudo, da área da Sociolinguística. Disse-lhe que tenho uma brochura nessa área, publicada em Coimbra em 1991. O meu segundo trabalho da área da Sociologia da Linguagem não chegou a ser publicado, em Varsóvia, devido à crise de final da década de 1990, que ocasionou o encerramento de várias editoras. E, como o trabalho estava dactilografado em apenas um exemplar, foi perdido.
Claro que essa é uma preocupação nossa, dos kotas, que crescemos numa época em que ainda não havia computadores e em que fazer alterações a um texto exigia que se o dactilografasse de novo. Coisas que os jovens de hoje não percebem.
Falei-lhe no estudo que tinha publicado e, dias depois, entreguei-lhe um exemplar. Ficou maravilhada e ficámos de sentar para traçar o projecto de investigação. Entretanto, fui dirigir a Faculdade de Letras e Ciências Sociais e fiquei praticamente sem tempo para novos projectos. Depois deste adiamento, voltámos a falar sobre o projecto, quando a Mana Amélia dirigia a Faculdade de Letras. Estava ela então sem disponibilidade. E o projecto foi sendo adiado, até não mais poder ser executado, tal como tinha sido concebido. A intenção era fazermos ambos um trabalho acerca da influência da estrutura social na linguagem, nos dias de hoje, aqui em Angola – com a visão sociológica aliada à visão linguística, numa perfeita harmonia sociolinguística. Seria um estudo de grande utilidade para o sistema de educação do nosso país, que infelizmente não chegou a ser concretizado.

Minhas Senhoras e meus Senhores,
No que respeita ao livro que trazemos, ele reúne escritos de 29 autores, todos eles com alguma ligação à Professora Amélia Mingas. É uma miscelânea de textos, que reúne 10 artigos académicos, 3 poemas e 21 depoimentos.
A homenageada (a Prof. Amélia Mingas) é uma mescla de Cabinda/Luanda, que se transformou numa linguista africanista de grande mérito e de créditos reconhecidos nacional e internacionalmente, uma linguista com uma visão cosmopolita de África e da sua inserção num mundo de desigualdades que se agudizam ano após ano, dia após dia. Desigualdades, em relação às quais a Mana Amélia sempre se insurgiu, pois possuía um apurado sentido de justiça social, graças à sua visão cosmopolita do mundo, que sempre partilhámos em conjunto.
Quem são os autores deste livro, o qual tive o privilégio de coorganizar?
Temos o esposo, a filha, uma sobrinha, algumas irmãs e dois irmãos espirituais, Colegas, amigas e amigos de Amélia Mingas. Terá sido divinal a ideia de juntarmos textos académicos a depoimentos elaborados na base de sentimentos e de partilhas de décadas. 
Agradecemos a cada uma e a cada um dos 29 autores, que abraçaram o projecto e se puseram a rabiscar ideias e memórias que, de alguma forma, terão alguma relação com a Mana Amélia. Onde Ela está neste momento, háde certamente estar feliz com esta iniciativa e com o acto que hoje testemunhamos.
Uma menção especial deve ser feita ao Prof. Eugeniusz Rzewuski, antigo Embaixador da Polónia em Luanda, mas acima de tudo meu Amigo e meu mestre da Universidade de Varsóvia, que foi quem me apresentou a proposta inicial de elaboração deste livro em homenagem à nossa Irmã, Amélia.
Outro agradecimento particular ao Decano da Faculdade de Humanidades da UAN, que abraçou a ideia e se predispôs a colaborar, desde o início.
Não posso deixar de referir o Jota Carmelino, que abraçou desde logo a ideia e, comigo, deu passos no sentido de a materializar. Este é o resultado do trabalho de todos nós, autores, numa merecida homenagem à Profª Amélia Arlete Dias Rodrigues Mingas.
AMÉLIA MINGAS, presente!

Luanda, 17 de Dezembro de 2020.


Mensagem de Maria Perpétua Nunvo
(Filha)
(17.12.2020)

AMÉLIA MINGAS, MINHA HEROÍNA

MÃE,

Delicada como uma flor

Forte como leão

Rica de amor 

Coberta de pura emoção 

Em teus braços protecção 

Em teus lábios palavras de amor 

Em teu coração compaixão

Em teu colo refúgio da dor

Minha mãe, minha heroína

Doutora Amélia Mingas, como todos te conheciam, mas para mim eras simplesmente a minha mamusca.
Mamy, falar de ti é falar de amor, falar de ti é uma grande responsabilidade, porque nos teus dias na terra fizeste o bem, ser mãe, ser irmã, ser cidadã com responsabilidades que marcaram a tua trajectória aqui connosco.
Foste uma cidadã exemplar, deixaste a tua marca Amélia Mingas, que não desaparecerá.
Tinhas inúmeras qualidades, infinitas! O teu olhar, a tua forma sensível de ser que poucos sabiam ou conheciam, o teu sorriso, meu Deus, como eu adorava! Que saudades de gritar o teu nome mal entrava em casa para depois reclamares porque estava a gritar o teu nome e depois a seguir dava-te um abraço e dizias logo 'pronto, pronto, já chega' porque te apertava demais. Saudades das nossas danças em casa sem motivo nenhum simplesmente dançávamos. 
Sempre me inspirei em ti no meu dia a dia, porque eu sempre disse que queria ser como tu, mas dei-me conta que não posso ser como tu porque é impossível eu ser Amélia Mingas mas sabia que podia me inspirar e ser alguém com princípios e com bom carácter como eras. Fico muito feliz quando oiço as pessoas falarem bem de ti, porque ajudaste muita gente a conquistar os seus sonhos, o dom que te deram para fazeres diferente a vida das pessoas, como professora Amélia Mingas.
Eu sempre me vou lembrar das tuas palavras, dos teus ensinamentos, nunca vou esquecer o que aprendi contigo e tu serás sempre o meu anjo da guarda, a nossa estrelinha mais brilhante do céu e sei que sempre irás cuidar de nós. Papy, Arlete, Zila e eu tudo faremos para os teus feitos nunca desaparecerem.

Até já, Mamy!


Mensagem de Amélia E. Arlete  Pinto de Andrade
(Filha)
(17.12.2020)

Minha muito querida e estimada mamã Amélia! 
Serás sempre a mãe, tia ou avó Amélia.
A tua voz, meiga e amiga, ficará para sempre nos nossos corações, 
e nas belas memórias da nossa família.
Muito obrigada, minha mamã Amélia, 
a querida e adorada “ Mameia” dos meus filhos, 
pelo carinho que dedicaste a todos nós.
Foi uma honra e um grande privilégio termos desfrutado da tua presença!


Mensagem de Graça Simbine Machel
(17.12.2020)

Por uma vida vivida plenamente
em todas as dimensões 
Pelo exemplo que deixaste como herança
Pelo impacto que sobreviverá
através de gerações vindouras
Pelo amor com que abraçaste os teus,
Parabéns pelo teu aniversário, minha irmã gémea!
A estrela em que resides brilha mais intensamente 
em cada dia que passa. 
Amar-te-ei sempre!
Russita 


Mensagem de Maria do Céu Reis
(19.12.2020) 

A tua participação textual com as suas diferentes tipologias é uma Declaração de profundo Amor à Dama dos teus Pensamentos, uma história de vida a propósito de dois amantes em luta por uma Angola livre, unida, democrática, próspera e Africana (assim rezava o nosso lema). 
E assim continuou a ser a vossa relação em fases posteriores quando a questão linguística imprime à sua condição de Académica um ritmo de quem constrói ciência. Processo em que estiveste presente, como cúmplice intelectual e afectivo. 
Continua a escrever. Amigo Jota. Naquele dia nada assinalei sobre a Homenagem por ter chegado a casa transportando comigo a satisfação pelo seu reconhecimento e a imensa saudade pela sua ausência. 
E assim adormeci. 
Estamos juntos. 


Mensagem do Professor Américo Oliveira
(19.12.2020)

Muito obrigado e parabéns à equipa organizadora. 
A Professora Amélia deixou um grande vazio para a família, amigos e Angola, mas, também, uma grande herança humanista, académica e de lutadora e patriota.
Ficámos órfãos de uma Mãe-Grande. 
Forte abraço.


Mensagem do Professor Eugeniusz Rzewuski
(18.12.2020)

Amélia Mingas - Presente!

Foi para mim uma grande honra e emoção ter sido convidado a participar como autor no projecto do livro de homenagem à saudosa Professora Amélia Mingas, assim como no seu acto de lançamento. Agradeço sobretudo aos coordenadores do projecto, saúdo os estimados Co-autores. No dia do aniversário natalício da Professora Amélia mais uma vez aprendemos que a contribuição dela para harmonizar a multiglóssia angolana e africana é semente bem lançada.   
Amélia Mingas  "Mirabilis" - presente para sempre  na terra bem fértil angolana e internacionalmente.
Saudações cordiais.
Eugeniusz     

Eugeniusz Rzewuski
Warszawa, Poland
 


Mensagem do Adolfo Maria
(20.01.2021)

Este livro é um importante repositório histórico, político e sociológico de Angola (e não só), através da evocação, em múltiplas abordagens, da vida de uma cidadã exemplar, a Amélia Mingas.
Entre muitos, destaco o primeiro texto da Maria do Céu que define a Amélia em todas as vertentes: militante, cidadã, investigadora, intelectual (“de pensamento pensante”); o texto do Fidel Reis, cheio de criatividade; o escrito do Jota, viúvo da Amélia, que é um fresco sobre épocas significativas e uma comovente homenagem à sua Amélia. Claro que há outros textos muito importantes, nomeadamente os referentes à primeira parte, os escritos de académicos. E há ainda excelentes testemunhos e fotos e obras da Amélia…
Mas leiam o livro para se documentarem sobre o combate da Amélia Mingas e companheiros pela independência, pela democracia, pelo progresso do povo angolano. E para se aperceberem da estatura desta angolana.

Abraços
Adolfo Maria